O Instituto Fazendo História publica periodicamente situações cotidianas dos serviços de acolhimento, para estimular reflexões e a construção de estratégias a partir de critérios técnicos e não pessoais.

As situações apresentadas fazem parte do kit de Formação “Vamos abrir a roda”  e abrangem diferentes temáticas: adolescência, bebês, agressividade e limites, histórias de vida, ritos de passagem, entre outras.

Para pensar! O tema das duas situações de hoje é: Trabalho com famílias

Situação 1:

 Jorge (6 meses), Rafael (4 anos) e Samanta (12 anos) foram acolhidos após o nascimento do caçula. A mãe é usuária de drogas, não tem moradia fixa e os laços com outros familiares foram todos rompidos. Apesar da situação de risco e de extrema negligência em que viviam, as crianças mais velhas são muito apegadas à mãe e desde que chegaram ao serviço, perguntam quando voltarão a ficar com ela. Apesar do vínculo com a mãe ninguém acredita que ela consiga abandonar as drogas e sair da rua para cuidar de seus filhos.

 

Essa situação faz pensar sobre a dureza e sofrimento implicados em uma destituição do poder familiar e na questão da separação de irmãos, uma decisão de altíssima complexidade. Se esta mãe for destituída, qual o futuro deste grupo de irmãos? Se por um lado, está claro no ECA que deve-se evitar a separação de irmãos sempre que possível, por outro lado, sabemos que a permanência de um bebê de 6 meses em um serviço de acolhimento até os 18 anos seria uma falha na garantia ao direito à convivência familiar e comunitária. A adoção de uma menina de 12 anos é algo bastante raro. Neste sentido, a separação do grupo de irmãos abriria a possibilidade dos menores serem adotados. Aqui, deve imperar o respeita e a redução de danos, mas haverá sofrimento e o mesmo pode ser cuidado. Agora, vale nos perguntarmos: será que não seria possível adoções em que os pais quisessem e garantissem a convivência com os irmãos? É o que mais faria sentido, não?

 

Situação 2:

O horário de visitas familiares na casa é sempre aos domingos à tarde, mas a mãe de Ana (4) vive aparecendo em outros dias, na hora que quer. Isso tem atrapalhado bastante a rotina e estamos muito na dúvida de como lidar com esta situação.

 

O maior objetivo no trabalho com as crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento é o retorno familiar e  para isso, é preciso que a convivência familiar seja incluída no projeto da casa. Neste caso vale pensar se este horário da visita está adequado para a mãe de Ana ou se de fato ela só consegue se organizar de outra forma e precisamos repensar a rotina a partir deste caso. A organização da rotina de um serviço de acolhimento deve ser pensado a partir do que é melhor para o caso de cada criança e adolescente e não em função do que é mais organizado e tranquilo para a equipe. Os lugares onde as visitas familiares não tenham um horário fixo na semana tem demonstrado um alto índice de sucesso no fortalecimento de laços familiares.

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