Se para qualquer pai ou mãe às vezes é difícil estabelecer limites, esse desafio é talvez ainda maior em serviços de acolhimento. Além de acolher um número maior (de 10 a 20 crianças, dependendo do serviço), muitas vezes as crianças e adolescentes expressam em seus comportamentos suas histórias vividas. Além da ruptura vivida pelo acolhimento em si, frequentemente passaram por situações de violência, abuso ou negligência.

Ao chegar no abrigo, se sentem como se estivessem “em um país estrangeiro”, sem conhecer a cultura e as regras do local. Por isso pode ser muito difícil para eles respeitá-las.

Em muitos casos o comportamento indesejado é apenas uma reação ao que a criança viveu e está vivendo, numa tentativa de elaborar as situações. Toda atitude tem um motivo subjacente e é preciso entendê-lo para poder estabelecer os limites adequados – sem que isso signifique aceitar a transgressão.

Isso porque o objetivo do limite não é produzir apenas obediência. É algo muito mais amplo: envolve a educação para a inclusão na sociedade, dando ferramentas para que a criança compreenda a cultura em que vive. O alerta tem que servir para reparar o dano.

Para chegar a esse resultado, a estratégia usada deve estar sempre relacionada ao ato em si. Uma consequência com caráter punitivo e desconectado com o ato só produz raiva não ensina nada. (ex: não ir a passeios, não fazer coisas que gosta). Quanto maior a amorosidade e a tranquilidade ao colocar o limite, maior chance funcionar. Melhor ainda se as regras forem pensadas em equipe, para que valores pessoais não interfiram em uma situação particular.

Justiça Restaurativa

Seguindo esse conceito, o próprio sistema judiciário está abrindo novas perspectivas para lidar com transgressões juvenis. Trata-se do conceito de Justiça Restaurativa, em que o foco não é a punição, mas a reparação de algo prejudicado pela violência.

Um projeto nesse sentido foi implantado em 2005 em escolas de São Caetano do Sul, onde muitos conflitos estavam sendo tratados como questões de polícia. Para os especialistas, ao punir um ato violento de forma violenta, estamos ensinando que problemas se resolvem com violência, sem levar em conta que muitas vezes o agressor também estava sendo agredido.

Para romper esse ciclo, o projeto parte do princípio de que a violência viola necessidades básicas do ser humano, como a sensação de pertencimento a um grupo e a autonomia, e que as instituições devem promover ações que estimulem a interação, o diálogo e a capacidade de ser responsável pelos próprios atos.  

Este conteúdo foi extraído de uma oficina, realizada no dia 26 de julho de 2018, que contou com a participação das especialistas Madza Ednir e Yara Saião (https://www.youtube.com/watch?v=mbcrZ8VU5us&list=PLnXe9VZ1ye9x6zXIAJP_owosCOfTjvlAJ)

Colaborou Gabriela Cupani