Pra começar: os desafios

Pensar os desafios da adolescência nos coloca diante de inúmeras questões e a primeira delas, é que os desafios são muitos!

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Então, falar sobre adolescência e desafios, é falar sobre palavras, histórias e saberes que mudam de lugar, sobre sujeitos que tentam, incessantemente, encontrar um lugar.

E essas mudanças, nem sempre definitivas ou com ponto final, acontecem em infinitas idas e vindas, e diria que podem ser pensadas como deslocamentos. É como se o adolescente partisse de seu lugar de origem e fosse habitar uma terra estrangeira; como se aquilo que antes era absolutamente familiar e conhecido se convertesse em motivo de estranhamento, o que demanda novas ferramentas e estratégias.

Nesse sentido, pensar os desafios da adolescência em situação de vulnerabilidade social está, de um lado, para além do “pacote” trabalho, moradia, uso consciente do dinheiro e vínculos, e de outro, precisa levar em conta os modos de sustentação que meninos e meninas encontram para serem sujeitos no mundo.

A questão é que quando falamos de adolescência e vulnerabilidade, há uma diferença fundamental que se coloca, na medida em que há determinados aspectos e dilemas da vida que não se apresentam do mesmo jeito para todos os adolescentes.

Assim, podemos dizer que quanto mais precárias as condições de vida, mais demandamos dos adolescentes que apresentem recursos para lidar com situações e problemas imensamente complexos, como por exemplo moradia, trabalho/profissão e dinheiro.

A adolescência é um tempo de mudança, de transformação, que acontece de forma intensa e turbulenta. Muda o corpo, mudam os desejos, mudam as expectativas, muda principalmente o que se espera daqueles que eram crianças e se tornam adolescentes, a meio caminho da vida adulta.

Nesse sentido, adolescer significa reformular QUEM EU SOU, o que traz responsabilidade, liberdade e muita angústia, já que “o processo da adolescência tem raiz na ausência de lugares sociais pré-definidos para o jovem e a complexidade crescente da entrada no mundo do trabalho, que exige longa formação e qualificação […] De certo modo, entrar no mundo adulto significa definir valores e regras que adotará ao longo do tempo, significa ainda saber quem é, e o que espera da vida, para poder escolher seu modo de inserção social […] Nesse sentido, adolescência é um intenso período de trabalho psíquico, subjetivo e relacional, necessário para produzir um cidadão com autonomia, engajamento e capacidade de escolha […] E como pessoa em desenvolvimento, precisa de tempo e proteção – familiar, escolar e social – para que seus ensaios e experimentações não precipitem definições precoces sobre o seu caráter ou seu modo de ser.” Rosa, M.(2012)

É um momento de escolhas pessoais e profissionais, de preparação e acesso ao exercício da sexualidade, mas, sobretudo, de um novo lugar no campo social (público e familiar), marcado pela cultura. Isso implica pensar o que significa ser ADOLESCENTE, considerando o contexto em que esse processo acontece, e como tudo isso se dá atravessado pelas marcas da vulnerabilidade social.

Falar de vulnerabilidade implica falar de ruptura (e não necessariamente de separação), na qual o social é determinante.

E social não é apenas uma questão de família disfuncional, mas de uma escola que não foi suficientemente protetora, de um bairro que não é investido pela presença do Estado. Nesse sentido, a vulnerabilidade é multifatorial para meninos e meninas que pedem, de diferentes maneiras, algum lugar de visibilidade, justamente porque sua subjetividade está atravessada por marcas sociais que carregam, em si mesmas, certas determinações que ignoram ou silenciam, geralmente de forma violenta, os impasses, questões e desafios que eles enfrentam.

A RECEITA DE DOUGLAS PARA A MAIORIDADE

Massa

  • 5 cabeças de ET;

  • 2 porções de técnica;

  • ½ l. de mãe fanática religiosa;

  • ½ l. de pai esquizofrênico,

  • 2 passagens pela Fundação Casa;

  • 6 meses no Creca

  • Bexiga;

  • ½ xícara de Caps;

  • ½ xícara de Caps adulto

Recheio

  • 1 pitada de desconfiança;

  • I xícara de ingenuidade;

  • 1 colher de desejo;

  • 1 medida de fantasia

Modo de preparo

Misture os ingredientes do recheio com a chegada da maioridade. Separe. Acrescente os ingredientes da massa de modo descontínuo e polvilhe com a falta de recursos da Rede. Despeje a massa na fôrma Abrigo Joselito. Acrescente o recheio e cubra com uma camada de espera angustiante. Deixe dourar e sirva quente.

Refugiados Urbanos - ET Ingrith


Cristina Rocha Dias - psicanalista e supervisora do Grupo nÓs, o programa do Instituto voltado a jovens que estão em processo de saída do acolhimento.