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Seminário promovido pelo IFH reúne mais de 300 profissionais de serviços de acolhimento do país

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Seminário promovido pelo IFH reúne mais de 300 profissionais de serviços de acolhimento do país

No mês de abril, o Instituto Fazendo História, em parceria com a Fundação Salvador Arena, promoveu um seminário que reuniu 300 participantes, entre educadores, técnicos e coordenadores de serviços de acolhimento para debater a formação dos profissionais que atuam com crianças e adolescentes separados de suas famílias.

Nesse encontro foi lançado o kit “Vamos abrir a roda”, que reúne livros, vídeos, referências de atividades e fichas de reflexão sobre os desafios enfrentados no dia a dia dos serviços de acolhimento. Tudo para oferecer um material que seja um suporte para as reuniões e formações continuadas que precisam acontecer nos serviços para melhor acolher as crianças e adolescentes. 

Todos os serviços presentes receberam o material, bem como outros de todo o Brasil que solicitaram o envio. Se você é um serviço de acolhimento e não tem esse material, escreva-nos para pensarmos como viabilizar seu acesso a ele! 

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OFICINA: "Todo(a) cuidador(a) deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar"

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OFICINA: "Todo(a) cuidador(a) deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar"

Nos dia 9, 10 e 11 de Novembro, foi realizado o III Seminário Internacional de Qualidade nos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes na Universidade Anhembi Morumbi, sob a organização do NECA, no qual foi realizada uma Oficina intitulada: “Todo cuidador deve receber apoio, atenção, formação e ajuda em sua tarefa do bem cuidar” pelo Instituto Fazendo História. A equipe de formação do Instituto, composta pela coordenadora e técnica do Programa, Tatiana Barile e Fernanda Cocitta foi quem realizou a Oficina.

Tatiana Barile iniciou a Oficina, convidando os participantes a realizarem uma dinâmica de apresentação para mapeamento do grupo. Na ocasião havia 40 participantes, tanto homens quanto mulheres, de cargos bem variados (educadores, técnicos, gestores e presidentes de instituições mantenedoras e SAICAS), com formações variáveis nas áreas humanas e sociais (prevalência por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos). Foram identificados participantes oriundos de diversas regiões do país, compondo 9 Estados e mais de 20 Municípios, além de estrangeiros.

Após o primeiro momento de identificação e integração, o grupo participou de uma atividade de design thinking, na qual cada um contribuía com uma palavra que representasse as seguintes questões norteadoras:

– O que é cuidado?

– O que é cuidado com as crianças e adolescentes?

– O que é cuidado com os educadores?

A partir destas questões e das contribuições do grupo, formou-se um grande painel no qual as palavras foram agrupadas, formando um grande diagnóstico sobre o tema cuidado. No que diz respeito ao cuidado, ficou claro que cuidado passa pelo afeto, amor, carinho, estar atento ao outro, respeitar o outro, oferecer suporte, empatia, proteção, singularidade, liberdade, honestidade, encontro e limites. Dentre estas palavras as que tiveram grande destaque foram o amor e atenção, que apareceram muitas vezes.

No que diz respeito aos cuidados com crianças e adolescentes, o grupo trouxe: segurança, compromisso, confiança, direcionamento, compreensão, acolhimento, garantia de direitos, disponibilidade, individualidade, atenção, olhar, colo, desafio, amor, respeito, acolher sem estigmatizar, proteção e referência. Nesta categoria, aspalavras que apareceram com maior frequência foram: proteção, escuta e respeito.

Na categoria de cuidados com educadores, o grupo entende que sentem-se cuidados quando: são escutados, tem o suporte técnico para o acolhimento adequado,  acolhidos e amparados pela equipe técnica e coordenação em seus desafios (suporte), informação e conhecimento, quando são respeitados, possuem apoio, direcionamento, amor, olhar, segurança, formação continuada, capacitação e escuta sendo estas, as palavras que apresentaram grande representatividade nesta categoria.

Após a realização desta atividade inicial, o grupo foi convidado a seguir na Oficina através de 4 grupos que pudessem discutir 4 temas, a partir de aspectos positivos negativos e possíveis estratégias, através da metodologia de world café, na qual todos os participantes teriam a possibilidade de contribuir com todos os temas. Os quatro temas discutido foram:

– Seleção de educadores;

– Organização da rotina;

– Histórias pessoais;

– Reuniões de equipe, formação e supervisão;

SELEÇÃO DE EDUCADORES

No que diz respeito à seleção de educadores, os aspectos negativos foram:

– Falta de profissionais qualificados;

– Falta de critérios na seleção (muitas indicações sem perfil);

– Baixos salários;

– Ausência de plano de carreira;

– Alta rotatividade;

Os aspectos positivos foram:

– Divulgação em sites e redes sociais;

– Parcerias com universidades;

– Recursos metodológicos específicos;

– Perfis bem definidos;

– Capacitação e valorização profissional;

Com relação às estratégias sugeridas sobre a seleção de educadores, o grupo trouxe:

– Informações claras sobre as atribuições do cargo desde o início do processo seletivo;

– Desenvolver um passo a passo para inserção do educador no cotidiano;

– Realizar processos formativos dos profissionais;

– Melhorar condições de trabalho (salário, carga horária);

ORGANIZAÇÃO DA ROTINA

No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos negativos foram:

– Diferenças de perfis e concepções de trabalho;

– Rotatividade da equipe;

– Dúvidas sobre com fazer;

– Rotina estabelecida sem considerar as singularidades das crianças;

– Prática mecanicista sem reflexão;

– Divergências entre os PIAs e a rotina;

No que diz respeito à organização da rotina, os aspectos positivos foram:

– Alinhamento na equipe;

– Participação dos acolhidos na construção da rotina;

– Momentos de escuta/supervisão;

– Construção da autonomia/co-responsabilidade;

– Estabelecimento de rotinas internas e externas ao serviço;

Com relação às estratégias sugeridas sobre a organização da rotina, o grupo trouxe:

– Estabelecê-la de acordo com as necessidades dos acolhidos;

– Identificação de recursos para a execução da mesma;

– Estabelecimento de comunicação entre todos os educadores e parceiros envolvidos;

– Ordenar prioridades;

– Contemplar atividades pedagógicas na rotina;

HISTÓRIAS PESSOAIS

No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos negativos foram:

– Falta de sensibilidade e exposição das crianças;

– Superproteção/ Identificação dos educadores com as crianças;

– Revitimização;

– Fragilização do educador;

– Falta de suporte técnico e de auto-conhecimento;

No que diz respeito às histórias pessoais, os aspectos positivos foram:

– O conhecimento da história possibilita melhor acolhimento da criança e adolescente;

– Empatia/ motivação;

– Relação de confiança e aproximação entre crianças e educadores;

– Identificação com o trabalho/sensibilização sobre o papel do educador;

– Novas possibilidades de atuação com as crianças e adolescentes;

Com relação às estratégias sugeridas sobre as histórias pessoais, o grupo trouxe:

– Realizar capacitação e supervisão continuada com toda equipe;

– Aprimorar a seleção de profissionais para atuação neste contexto;

– Ampliar repertório e qualidade de vida das crianças acolhidas;

– Aumentar a remuneração dos profissionais para melhorar a qualidade do trabalho com as histórias de vida;

REUNIÕES DE EQUIPE, FORMAÇÃO E SUPERVISÃO

No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos negativos foram:

– Dificuldade para reunir toda equipe (carga horária);

– Encontros muito hierarquizados;

– Distanciamento de diferentes saberes;

– Descontinuidade de acordos e combinados;

No que diz respeito às reuniões de equipe, formação e supervisão, os aspectos positivos foram:

– Reuniões sistemáticas para discussões de caso;

– Formação continuada: mais conhecimento, motivação, diálogo e interação na equipe;

– Supervisão interna (equipe técnica) e externa (profissional especializado);

Com relação às estratégias sugeridas sobre as reuniões de equipe, formação e supervisão, o grupo trouxe:

– Concurso público;

– Formação horizontal;

– Banco de horas para facilitar a participação de todos;

– Capacitação para todos;

– Valorização de saberes da equipe (escuta e fala);

Ao final das apresentações dos quatro grupos, o grupo ressaltou a importância do cuidado com o cuidador como maneira de potencializar a qualidade no atendimento de crianças e adolescentes acolhidos, desde a seleção adequada de profissionais ao constante apoio e aprimoramento profissional de toda equipe. Ficou claro que existem profissionais com muita clareza e comprometimento com seus papéis profissionais, porém, em decorrência de condições precárias de trabalho, como os salários dos profissionais, e o baixo investimento em formação, capacitação e supervisão, o trabalho acaba por ficar fragilizado.

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Sistematização OFICINAS: "Sexualidade na infância e adolescência"

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Sistematização OFICINAS: "Sexualidade na infância e adolescência"

No dia 29 de agosto de 2015, foi realizada a oficina Sexualidade na infância e adolescência, com a presença dos especialistas Renata Guarido e Raul Araújo.

Renata iniciou o encontro trazendo um panorama do desenvolvimento da sexualidade humana. Segundo ela, costumamos pensar em sexualidade somente como o ato sexual. Assim, quando nos deparamos com uma situação relacionada à sexualidade na infância, imaginamos que é algo que veio de fora, alguém estimulou (como se a expressão da sexualidade não pudesse partir da criança).

Renata faz uma diferenciação da sexualidade nos humanos e nos animais. Para os animais a sexualidade é instintiva e acontece somente no momento da reprodução. Após o ato sexual, a satisfação é completa e volta a acontecer somente no próximo período reprodutivo.

A sexualidade humana não é instintiva – ela é construída e é algo que se organiza durante toda a vida, desde o nascimento. Pode ser estimulada de diversas formas, como por exemplo uma música, um cheiro, uma atividade. Também diferentemente dos animais, a excitação não termina e não está ligada somente à função reprodutiva – ela pode ter as mais diversas formas.

Sexualidade é aquilo ligado às experiências prazerosas e o corpo é o lugar onde o prazer acontece, um espaço erotizado. O prazer é algo construído durante a vida, a partir das relações que estabelecemos com os outros. O prazer é, então, algo que se inscreve e deixa rastros.

O prazer no corpo é algo que acontece desde primeira infância. Por exemplo, um bebê, mama não somente para obter o alimento, mas pelo prazer que tem em “chupetar”. Em outros exemplos, como na hora do banho, o prazer não vem somente pela satisfação da necessidade, mas pelo toque no corpo que as atividades de cuidado envolvem. Assim, quando cuidamos, estamos, ao mesmo tempo que satisfazendo necessidades, erotizando o corpo. O corpo é, portanto, uma região marcada pelo prazer – uma superfície de prazer – resultado do encontro com um outro.

O erotismo se manifesta de formas diferentes na infância, adolescência e na vida adulta. O encontro do corpo de crianças com adultos, que não seja da ordem do cuidado, para a criança é abusivo. Se o encontro for entre crianças, não pode ser considerado da ordem do abuso, mas sim da sexualidade infantil.

Sexualidade na infância é um conjunto de acontecimentos prazerosos, mas não definidos. Excitação, para a criança, é algo global – acontece e toma o corpo todo, não é circunscrita a uma região específica. Não é possível acontecer o ato sexual na infância, pois o corpo não está preparado para isso – não existe orgasmo na infância. Não há também, na infância, escolha sexual – tanto faz se é o outro é um corpo de menino ou menina, pois a criança está centrada nas experiência do próprio corpo. Hetero e homossexual são, portanto, definição que ocorrem somente na adolescência.

Sexualidade na adolescência não tem muita diferença da sexualidade na vida adulta. É na adolescência, a partir da puberdade,  que o corpo passa a estar pronto para viver o ato sexual. Adolescência é um acontecimento subjetivo (pode ser diferente nas diversas culturas) e a puberdade é um acontecimento biológico, que envolve hormônios e mudanças corporais.

A sexualidade é algo absolutamente singular – é construída na história de um sujeito, dos encontros do seu corpo com o corpo dos outros. Um mesmo acontecimento é vivido por pessoas diferentes de forma diferentes. Por exemplo, nos diferentes tempos históricos, o significado que se dá à sexualidade na infância ou a homossexualidade pode ser totalmente diverso.

Renata conclui sua fala trazendo esta importante ideia do olhar para a singularidade e contexto de cada sujeito. Costumamos olhar para as situações a partir das nossas histórias, do que vivemos e muitas vezes não corresponde ao que está acontecendo em outra realidade.

Raul Araújo, em seguida à fala de Renata, traz a questão da sexualidade na perspectiva do direito. Como lidamos com a questão da norma – o que é certo errado, justo ou injusto – quando falamos sobre sexualidade no serviço de acolhimento? Raul resgata a origem do ECA, na Constituição Federal de 1988, quando a criança e o adolescente aparecem pela primeira vez como sujeito de direitos. Segundo ele, os direitos das crianças e adolescentes são ainda algo novo e contestado, pois até 1990 a legislação vigente era o Código de Menores, que previa a intervenção do Estado e não firmava direitos. Algumas pessoas dizem que as crianças e adolescentes tem muitos direitos e não deveres, que não são punidos. Segundo Raul, os serviços de acolhimento têm uma forte ligação com questões ligadas à sexualidade, pois em sua origem, nos antigos orfanatos, escondiam a vergonha dos filhos fora do casamento, que escancaravam a sexualidade da mulher e a repressão desta sexualidade.

Raul traz a ideia dos Direitos Sexuais e Reprodutivos. Segundo ele, durante a construção do Plano Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, este plano transformou-se no Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra à Criança e o Adolescente, o demonstra uma dificuldade em entender as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos.

Os direitos sexuais e reprodutivos são:

  • Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem vio­lência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a).
  • Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual.
  • Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergo­nha, culpa e falsas crenças.
  • Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual.
  • Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física.
  • Direito de ter relação sexual independente da reprodução.
  • Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heteros­sexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras.
  • Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva.
  • Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS.
  • Direito aos serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação.
  • Direito das pessoas de decidi­rem, de forma livre e responsá­vel, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.
  • Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos.
  • Direito de exercer a sexuali­dade e a reprodução livre de discriminação, imposição e vio­lência.

Afirma-se, portanto, o direito a ter prazer e desenvolver sua sexualidade de forma saudável– independentemente da condição da criança ou adolescente.

Segundo Raul, muitas vezes as experiências ligadas à sexualidade, prazer e afetos são reprimidas e, por vezes, punidas – marcando na história da criança a ideia de que a sexualidade é algo errado e ligado à transgressão. O Abrigo é o lugar onde muitas vezes estão sofrendo por conta dos rompimentos e da falta do contato afetivo e, por vezes, justamente quando conseguem se vincular (quando começam a namorar por exemplo), essa atitude é controlada e reprimida.

A partir das falas dos dois especialistas, considerando as manifestações das sexualidades existentes nas diferentes faixas etárias, o grupo foi convidado a refletir sobre: Que histórias de prazer e relação com os próprios corpos as crianças e adolescentes estão construindo a partir dessas vivencias nos serviços? As crianças e adolescentes tem estes direitos garantidos nos serviços de acolhimento? Como organizar espaços e ações que promovam a oportunidade do desenvolvimento da sexualidade e prazer de forma saudável?

Para assistir aos melhores vídeos sobre o tema, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=Mt9HgzPrGPE&list=PLnXe9VZ1ye9z7oGmuycVDXhzwSIEGpRCb

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OFICINA:  “Adolescência e uso de drogas: pensando caminhos”

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OFICINA: “Adolescência e uso de drogas: pensando caminhos”

No dia 18/07/15, foi realizada a Oficina: “Adolescência e uso de drogas: pensando caminhos”, com a participação dos especialistas: Bruno Ramos Gomes, que possui graduação em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2006), e mestrado em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Atualmente é coordenador e presidente do Centro de Convivência É de Lei, além de psicólogo clínico e Acompanhante Terapêutico. Atua principalmente nos seguintes temas: drogas, redução de danos, vulnerabilidade, crianças e adultos em situação de rua, direitos humanos;  e Valéria Pássaro, que é educadora, com formação em educação libertária, com experiência na coordenação e desenvolvimento de processos de formação em política de assistência e desenvolvimento social. Atualmente é coordenadora pedagógica da Moradia Associação Civil, que trabalha com crianças e jovens em situação de grave risco social.

Bruno iniciou o encontro apontando para o fato de que as drogas sempre existiram na história da humanidade, e que em cada cultura, o uso das drogas tem objetivos/motivações distintas, podendo ter um cunho: religioso, mágico, criativo ou recreativo.

Na cultura dos Andes, o uso de bebidas alcóolicas tem por objetivo “encontrar com o mágico”, com o superior. Em algumas culturas hindus, o uso de maconha tem finalidades religiosas, assim como o vinho está presente na cultura católica.

O que são drogas?

Etimologicamente, a palavra vem do holandês “droog”, que quer dizer seco, coisa seca. Os primeiros relatos foram em 1500 no Porto Holandês, na época em que as expedições estavam acontecendo, e com elas as especiarias sendo descobertas e transportadas para diferentes culturas. Nesta época, não havia distinção entre as drogas e especiarias, e o uso dessas substâncias foi sendo constituído de acordo com as diferentes culturas. No início do séc. XIX, 90% dos medicamentos continham ópio em sua composição química, por tratar-se de um anestésico.

Pela definição da OMS (Organização Mundial da Saúde), droga é toda substância que introduzida no organismo vivo, modifica uma ou mais de suas funções.

Alimentos e remédios também são drogas?

A partir desta definição, reflexões são colocadas: Os alimentos, remédios, veneno seriam drogas? Bruno relata que o que define uma droga não é seu componente químico, mas no contexto, no tipo de uso, dosagem e sentido para cada um. Por exemplo, o café é um alimento que contém cafeína, uma substância que também está presente em medicamentos, e para muitas pessoas causa dependência. O próprio uso da maconha, através de estudos, vem sendo discutido para uso medicinal. Desta forma, quanto menos focarmos na substância e mais no contexto, mais possibilidades de compreensão e intervenções serão possíveis.

Os efeitos causados pelas drogas dependem de aspectos como: frequência, tempo de uso, qualidade da droga, metabolismo, associação com outras drogas, condições psicológicas, físicas e contexto social. É fundamental compreender estes aspectos a fim de não colaborar com generalizações que não possibilitam a compreensão do uso para cada indivíduo, que por sua vez está inserido em um contexto social que possui seus costumes. Segundo Bruno, os contextos proibitivos potencializam o consumo.

Como lidar com o uso de drogas no contexto do acolhimento?

Valéria Pássaro iniciou sua fala compartilhando sua trajetória profissional e experiência com adolescentes na Casa das Expedições, Ubuntu e Casa Taiguara. Valéria compartilhou a percepção de que a nossa sociedade possui uma visão muito moralista sobre drogas, sobretudo nos serviços de acolhimento nos quais as equipes estão mais preocupadas com a trajetória das drogas do que com as histórias de vida dos meninos. Valéria aponta para a importância de reconhecer os diferentes tipos de uso, a fim de não haver generalizações na compreensão dos fenômenos.

Neste sentido, é fundamental trabalhar com projetos de vida, a partir das trajetórias individuais de cada um, e nos quais eles possam trazer seus desejos e não a partir de nossos valores morais. Neste sentido, é fundamental ver os desejos e possibilidades das famílias junto com elas e não por elas.

As drogas fazem parte da adolescência, por isso é fundamental ofertar espaços para diálogo, para que eles possam falar sobre a sua relação com as drogas e não espaços moralistas de questionamentos.

Valéria falou sobre uma perspectiva importante na relação entre os educadores/técnicos e os adolescentes, na qual os lugares dos profissionais reafirmam o lugar dos adolescentes podem ter no mundo. Neste sentido, que intervenções favorecem a possibilidade dos meninos recriarem seus lugares no mundo, com novas maneiras e perspectivas?

Os adolescentes não são todos iguais, é preciso olhar para eles individualmente, o que acaba não acontecendo no cotidiano dos SAICAS, que acabam por exercer uma atuação muito “robotizada” e careta, favorecendo a compreensão dos adolescentes como problema e tendendo a medicalização para a normatização. Se os médicos prescrevem, pode-se usar drogas lícitas, mas ilícitas nem pensar! Valéria trouxe importantes reflexões acerca da banalização da medicalização lícita.

Valéria ressalta a importância da revisão e reinvenção das formas de se receber os meninos, e sair da perspectiva do julgamento do certo e errado. Os adolescentes chegam fragilizados, muitas vezes sem perspectivas, nas quais a única “saída” é recorrer para o uso de drogas, e assim apresentam o melhor e o pior deles, como maneira de pedir ajuda, e se os abrigos não estão preparados para lidar com isso, acabam por colocar em prática atuações coercitivas que colaboram para as rupturas, fragilizando as relações e potencializando o uso de drogas.

Por fim, Valéria ressalta a importância de favorecer um espaço para pensar os desejos e projeto de vida, a partir da perspectiva do aqui agora e não do futuro, pois se eles não têm clareza sobre o que eles são e querem neste momento, como poderão pensar no futuro?

Valéria indica dois filmes que podem contribuir para o trabalho com os adolescentes e uso de drogas, que são: “Os alunos da sala 36” e o documentário “Tarja branca”.

Após a exposição dos especialistas, os participantes reuniram-se em pequenos grupos para discussão e trouxeram as seguintes questões para os especialistas:

  • Como lidar com as diferentes regras de serviço de acolhimento e família (na questão do apadrinhamento)? Por exemplo, o serviço trabalha com o adolescente, mas quando ele vai para a família, a realidade é outra.

  • Como tornar as atividades e outros espaços tão atrativos quanto o prazer do uso de drogas?

  • Como lidar com a influência dentro do serviço de acolhimento, quando chega um adolescente que é usuário e acaba levando outros para o mesmo caminho?

  • Na prática, o que fazer frente as limitações da Rede?

  • Como uma equipe acolhe um adolescente com histórico de drogadição? Como realizar este trabalho com a Rede?

  • Quais as possibilidades de realizar um trabalho de redução de danos nos SAICAS?

  • Como trabalhar com a família que rejeita a criança/adolescente por conta do uso de drogas?

  • Como trabalhar a questão do uso de drogas enquanto equipe, quando o usuário é a família?

Para abordar o tema drogas com os adolescentes, é fundamental que não seja através de um discurso moralista ou médico, mas sim através das escolhas e consequência delas, de maneira individual. Neste sentido, trabalhar a autonomia, na qual os adolescentes possam refletir e realizar escolhas de maneira responsável é um caminho. A autonomia é um processo que deve ser realizado desde pequenos, e não às vésperas da maioridade. Outro aspecto fundamental é reconhecer as qualidades e potências dos meninos, e não só para a sua relação com as drogas.

No que tange às possibilidades de trabalho em Rede, é importante trabalhar sobre a perspectiva de parcerias para além dos serviços gratuitos, e atuar com maior ampliação e apropriação da cidade para os meninos, e sair da lógica de que “pobre” só pode fazer atividades gratuitas. O papel do abrigo é ajudar a Rede a reconhecer os meninos em sua totalidade, e a participação da família é fundamental.

Sobre a questão de drogadição na Rede, é fundamental ter clareza do que se busca e quais são os equipamentos que atendem a demanda em questão. Ainda sim, é fundamental atuar de maneira criativa, através das próprias Redes afetivas que os meninos estão constituindo, para que seja possível ofertar outras possibilidades de satisfação e prazer que as drogas causam.

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=k48N89DarDA&list=PLnXe9VZ1ye9xUHW2ctyXsKVNuG9I4_7TO

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OFICINA: “Ritos de passagem: Chegadas e despedidas"

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OFICINA: “Ritos de passagem: Chegadas e despedidas"

No dia 20/06/15, foi realizada no Colméia, a Oficina: “Ritos de passagem: Chegadas e Despedidas, com a participação das especialistas: Gabriela Caselatto e Bianca Maidlinger. Gabriela é psicóloga, mestre em adoção, doutora em abandono. Atualmente é supervisora clínica do Programa Contato do Instituto Fazendo História. Bianca Maidlinger é formada em pedagogia Waldorf, e dedica-se a estudos e práticas da Pedagogia de Emergência.

Gabriela iniciou o encontro. Quando pensamos nas crianças e adolescentes acolhidos, o que imaginamos? Aspectos como abandono, negligência, maus tratos, violência sexual entre outros, são motivos para o acolhimento.

Segundo Gabriela, o abandono é um aspecto de difícil definição. Só é possível ser descrito à partir da própria vivência de quem já foi abandonado. Gabriela contextualizou o acolhimento na perspectiva das crianças e adolescentes, como “eles não estão lá porque querem”, foram tirados de suas famílias, de suas escolas, de toda a sua rotina, das pessoas com as quais tinham vínculos. Neste momento, Gabriela propôs uma dinâmica para o grupo, na qual todos os participantes deveriam escolher um objeto de valor significativo e depositá-lo em uma caixa no centro da sala, quefoi retirada da sala repentinamente. Gabriela perguntou ao grupo como estavam se sentindo, e o grupo relatou: dúvida, dor, raiva, tristeza, curiosidade, angústia, coração disparado e etc. Neste momento, Gabriela perguntou o motivo pelo qual elegeram este objeto para a atividade, e de um modo geral, o grupo relatou ter escolhido um objeto de muito valor pessoal. Gabriela apontou para o fato de reconhecer o que é importante para o outro, além da empatia com relação às emoções das crianças e adolescentes ao chegarem aos serviços de acolhimento.     

Muitas vezes, as perdas vividas pelas crianças e adolescentes geraram grande dor e instabilidade emocional. A segurança é um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável, e a sua ausência pode gerar grandes dificuldades de desenvolvimento de vínculos de confiança, entre outras questões psíquicas bem importantes.

O que é abandono?

Abandono é a privação do vínculo afetivo, cuidados maternos, proteção e conforto daquele que responde às necessidades básicas. A segurança pode representar algo conhecido, por isso crianças que apanham todos os dias tem este referencial, e apesar de não ser saudável apanhar, é algo conhecido que muitas vezes se torna uma forma de demonstrar afeto. Se esta criança passa a não reconhecer mais esta dinâmica, passa a ficar insegura, pois não tem controle da situação e não reconhecer o que é conhecido, habitual.

As privações parciais ou totais de afeto, causadas por rupturas, insuficiência de interação, descontinuidade e reações de luto, afetam as esferas: emocional, física, cognitiva, comportamental e social.

O luto e suas manifestações

O luto são reações às perdas. No caso das crianças e adolescentes acolhidos, o luto é vivido nos pequenos aspectos como: família, casa, brinquedos, comida, cheiros, hábitos, escola, lugares e etc. As manifestações de luto podem ocorrer de maneira misturada, com sentimentos de raiva, angústia, perda de referência, medo e etc.

As crianças que não se adaptam a algum lugar estão vivendo um processo de luto. A não adaptação pode ser uma forma de reaver o que tinha antes. Ainda sobre o luto, Gabriela trouxe mais elementos para identifica-lo, muitas vezes “velado” por outras emoções, como por exemplo:

  • Raiva – Luto

  • Desinteresse – Insegurança

  • Desprezo – medo do abandono e rejeição

  • Ansiedade – Dificuldade de adaptação ao novo

  • Recusa do cuidado e do afeto – desejo de segurança e controle

Muitas vezes, as crianças não conseguem identificar e reconhecer suas emoções e, por vezes, podem utilizar de mecanismos de manipulação para obter satisfação imediata, apresentando baixa tolerância à frustração e tendendo a recriar vivências de rupturas, confirmando a crença de que não é possível confiar novamente.

Ao chegar ao abrigo, a criança/adolescente está insegura (o) e em alerta, como uma tentativa de se proteger e se preparar para o pior, com medo de que uma nova ruptura, um novo abandono aconteça. Neste sentido, é possível identificar alguns comportamentos nas crianças mais “pegajosas”, como o desejo pelo controle e tentativa de evitar novo abandono, enquanto outras crianças/adolescentes utilizam o desprezo como forma de manter um distanciamento seguro a fim de evitar novas rupturas. O medo de que elas aconteçam novamente está presente nas duas formas de interação.

As crianças “boazinhas” tentam garantir a aceitação. As crianças que fazem parte de famílias presentes fisicamente, mas distantes emocionalmente, tendem a serem “grudentas”, enquanto que as crianças que vivenciaram rupturas definitivas tendem a desprezar as relações e se isolar.

O que é melhor? A criança ser criada na instituição ou viver com sua família mesmo que esta não tenha condições de prover-lhe um cuidado adequado?

“Independentemente de permanecer muito ou pouco tempo em um lar substituto, as crianças precisam ser ajudadas a encontrar formas satisfatórias de viver e se tornar inteiros” (Wilgocki e Wright , 2002).

É fundamental que as equipes possam acolher as crianças e adolescentes e realizar a leitura dos casos, compreendendo individualmente as histórias, considerando a idade, histórico familiar, relação com a família de origem, e manifestações emocionais de cada criança e adolescente, a fim de proporcionar novas possibilidades de desenvolvimento de vínculos e afeto. Desta forma, o adulto deve demonstrar: aceitação, curiosidade, interesse, empatia, afeto, divertimento na relação com a criança, disponibilidade para realizar leitura nas entrelinhas, respeitar os limites das crianças. A informação e a verdade são fundamentais no cuidado com crianças e adolescentes. Mentir para evitar sofrimento das crianças e adolescentes só prejudica ainda mais as possibilidades de aceitação e elaboração das experiências de cada um.

As famílias possuem funções fundamentais para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, tais como: reprodução, cuidados físicos e emocionais, identificação, socialização, educação e sustento. No contexto do acolhimento, os adultos: educadores e técnicos acabam por exercer grande parte das funções familiares. Apesar de ser uma medida provisória, implica no estabelecimento de relações de afeto, o que é um grande tabu para os profissionais do acolhimento, que muitas vezes acreditam que o trabalho não deve envolver emoções. Neste sentido, Gabriela reforça o fato de que os cuidadores precisam ser cuidados, para que possam sentir-se confortáveis e seguros em suas práticas profissionais.

O que é Pedagogia de Emergência?

Após a fala da Gabriela Casellato, Bianca inicia sua fala, apresentando brevemente a pedagogia Waldorf e contextualizando a Pedagogia de Emergência, criada em 2006. Segundo Bianca, Pedagogia de Emergência são intervenções realizadas antes da instalação do trauma. Os traumas são considerados como vivências emocionais muito estressantes, tais como: maus tratos, abuso, guerra, desastres naturais, que dependem da intensidade, duração, idade, contexto e rede social disponível no momento. O apoio familiar é um fator muito importante de proteção ao trauma, especialmente em situações de guerra.

As fases de intervenções são: Aguda (até dois dias após o acontecimento de uma situação traumática), estresse pós-traumático (até uma semana após a situação traumática), distúrbios pós-trauma e mudança permanente. As intervenções são realizadas até 8 semanas após o fato, pois entende-se que ainda é possível reverter a situação traumática.

Luto X Trauma

Segundo Bianca, todo trauma acompanha um luto, uma perda. Nem sempre o luto está relacionado ao trauma, mas à possibilidade de despedida. O luto está mais relacionado a rupturas e separações, e pode apresentar-se com desânimo aparente, raiva, no qual falar a respeito pode aliviar. O trauma está relacionado à maus tratos, abuso, guerra e desastres naturais. Todo trauma acompanha um luto. Ao vivenciarmos situações traumáticas, os sentidos ficam comprometidos, por isso, a metodologia de intervenção da pedagogia da emergência contempla atividades como: jogos cooperativos, atividades com equilíbrio, ritmos, aquarela, música, dança, argila e contação de histórias, como possibilidade de elaboração das vivências traumáticas

Na concepção da pedagogia da emergência, as crianças “traumatizadas” são portadoras de necessidades especiais, pois interferem diretamente em aspectos físicos e psicológicos, e necessitam de um cuidado diferenciado.

A partir do momento em que o trauma já está instalado, no contexto do acolhimento, é importante considerar as experiências e possibilidades de futuro. A fim de apoiar as crianças e adolescentes que vivenciaram situações traumáticas, é fundamental que as equipes possam atuar em três dimensões: psicológica (relacionamento/vínculos com os “cuidadores”), vital (rotina, aniversários, altar para ritualizar despedidas) e física (relacionada a estrutura do local). Acredita-se que a partir de bons vínculos, é possível elaborar traumas relativos à perda de confiança e investimento no afeto, assim como espaços de verbalização e realização de práticas e rituais que permitam externalizar emoções, bem como um espaço físico acolhedor e cuidado, favorecem a elaboração de traumas. Clareza, transparência e estética curam.

As questões trazidas às especialistas foram:

  • Como trabalhar as histórias de vida das crianças com os educadores, partindo do pressuposto que deve haver sigilo, e muitas vezes os mesmos não estão preparados para cuidar adequadamente das histórias?

  • Como falar a verdade sobre os motivos do acolhimento, para as crianças pequenas?

  • Como lidar com as crianças que vão permanecendo nos SAICAs, sem perspectiva de reintegração familiar e/ou adoção? E como lidar com os retornos das adoções que não deram certo?

  • Como lidar com a angústia da equipe com relação ao desacolhimento e a forma como as crianças serão cuidadas?

  • Como facilitar os vínculos com os adolescentes?

Com relação ao trabalho das histórias de vida com as equipes, é importante reconhecer que nunca haverá coesão sobre a forma de conduzir e lidar com as questões e com as histórias de vida, isso porque as histórias das crianças muitas vezes refletem em suas próprias histórias e limites. É fundamental que as equipes possam reconhecer e respeitar seus limites, e a partir disso poder apoiar uns aos outros. No entanto, profissionais que fazem uso equivocado das histórias de vida das crianças e adolescentes, precisam de ajuda, pois podem representar que algo vivenciado por ela não foi elaborado.

Com relação às saídas, cada criança evoca dores em quem fica. Os educadores podem apoiar as crianças, legitimando sua dor, e oferecendo espaços de escuta, cuidando para não prometer algo que não possa ser cumprido. Escrever cartas, realizar festas de despedidas, podem ser importantes ferramentas a serem inseridas no cotidiano dos abrigos. Já na chegada das crianças e adolescentes, é importante reconhecer e respeitar os limites de cada um, e oferecer um ambiente acolhedor através do olhar, escuta, tom de voz, toque. A participação de crianças e adolescentes que residem na casa, também é uma estratégia acolhedora para quem chega. Além disso, as características de cada educador devem ser reconhecidas como importantes para o desenvolvimento dos vínculos com as crianças e adolescentes.

O reconhecimento de que as saídas evocam sentimentos em todos que ficam é o primeiro passo para validar e dar a oportunidade de se falar sobre o assunto. Assim como nas chegadas, as despedidas podem ser cuidadas a partir de rituais que possam favorecer novos referenciais de despedidas para as crianças e adolescentes. Para as crianças é muito importante reconhecer nos adultos suas emoções, mas muitas vezes a equipe tenta não demonstrar fragilidade, desvalidando as emoções vivenciadas.

Sobre as devoluções nos casos de adoções que não deram certo, não é fácil re-editar o abandono. Porém, muitas vezes não se sabe os motivos, o que se sabe é que no processo de adoção, tanto a família quanto a criança, receiam a rejeição. Para as crianças devolvidas, é fundamental acolhê-las, e mais uma vez promover espaços de escuta e expressão de seus sentimentos. É fundamental que a equipe possa oferecer um ambiente físico e emocional seguros para que as crianças possam cuidar de suas rupturas e abandono, e não espaços que potencializam a fragilidades e incertezas.

Com os adolescentes, os vínculos devem ser realizados a partir de uma base segura, na qual eles possam experimentar e ter vivências e voltar para compartilhá-las. Os adolescentes tendem a testar essa base, e muitas vezes os adultos se ressentem com a mentira e agressividade, o que os leva a entrar no embate com os adolescentes. Os adultos podem ser seguros, firmes, respeitosos e afetivos, desempenhando assim uma autoridade afetiva, que acolhe tanto os acertos quanto os fracassos.

Com relação aos motivos do acolhimento para as crianças pequenas, é importante considerar a capacidade de compreensão de cada idade e tempo de cada criança. Com os bebês, o importante não é o conteúdo verbal, e sim a forma de se relacionar com ele. Na medida em que as crianças vão crescendo, a capacidade de compreender e elaborar suas histórias a partir do lúdico, contação de histórias, experiências cinestésicas, são importantes ferramentas de contato com o mundo. Estas experiências atuais podem reassegurá-los neste novo mundo e na perspectiva de refazerem suas histórias.

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=bztRdm9RLU0

 

 

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OFICINA:  “Agressividade e Limites: Como lidar?"

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OFICINA: “Agressividade e Limites: Como lidar?"

No dia 23/05/15, foi realizada no Colméia a Oficina: “Agressividade e Limites: Um desafio para toda equipe,  com a participação dos especialistas: Raul Araújo e Mila Motomura. Raul é psicólogo e atua na garantia de direitos de crianças e adolescentes há mais de 10 anos. Mila é psicóloga de formação e atua com facilitação gráfica há mais de seis anos. Atualmente é coordenadora de facilitação gráfica na Moom.

Qual a diferença entre crianças e adolescentes? O contexto do acolhimento interfere nesta concepção?

A Oficina teve como proposta trabalhar o tema agressividade de maneira participativa e lúdica, a partir da metodologia do teatro do oprimido.

Raul propôs ao grupo uma rodada de apresentação com nome, função no serviço onde atua, e o que mais gosta e não gosta no cotidiano dos serviços. Foi uma rodada importante para se familiarizar com o perfil do grupo e validar junto a ele as interferências destas habilidades e percepções, na relação com as crianças e adolescentes acolhidos.

Na sequência, Raul pediu ao grupo para compartilhar suas concepções e especificidades sobre criança e adolescência. No que diz respeito à concepção de criança, o grupo relatou as seguintes características: dependência (necessita de proteção), época específica do desenvolvimento, espontaneidade, inocência, curiosidade... No que tange a concepção de adolescentes, o grupo trouxe: não precisam tanto dos adultos, testam limites, são mais autônomos, são contestadores, têm dificuldades em lidar com frustração e são “sexualizados”.  Após esta primeira explanação sobre os conceitos de crianças e adolescentes, Raul indagou ao grupo: As crianças e adolescentes acolhidos são diferentes? Qual é o contexto em que estão inseridas?

O grupo trouxe importantes contribuições para as discussões, à medida que foram confrontando suas concepções sobre os conceitos de crianças e adolescentes, bem como as especificidades do desenvolvimento de cada faixa etária. Além disso, a contextualização de que estas crianças e adolescentes estão acolhidos, foi dando um contorno importante para a compreensão dos mesmos como sujeitos, com suas especificidades e histórias.

Neste sentido, Raul fez uma leitura histórica sobre a concepção de crianças e adolescentes, bem como das instituições que realizavam o papel social dos serviços de acolhimento. Além do apanhado histórico sobre as diferentes concepções de crianças, adolescentes, famílias e as instituições, foram propostas ao grupo refletir sobre: De que casa estamos falando? Quais são as características dos serviços?

Os serviços de acolhimento possuem um caráter excepcional e provisório na proteção e promoção dos direitos das crianças e adolescentes, mas não é a casa onde as crianças e adolescentes viveram e gostariam de estar com suas famílias. Esta questão é fundamental considerar, pois traz importantes impactos emocionais para as crianças e adolescentes, que muitas vezes expressam sentimentos como raiva e tristeza pela agressividade. Neste sentido, Raul contextualizou a questão das regras na rotina da casa, como um grande desafio, considerando que cada criança e adolescente vem de um contexto particular de regras. Raul reforça o fato de que mesmo as crianças e adolescentes que moravam na rua possuem suas próprias regras.

Como lidar com as diferentes concepções de regras e a construção de novas, de maneira que contribuam para um bom convívio na casa? A criação de regras e estabelecimento de limites é um tem realmente desafiador para todas as equipes. Será que existe uma fórmula passível de aplicação em todos os serviços?

Raul convida o grupo a considerar todos estes aspectos presentes nas histórias das crianças e adolescentes: rupturas, violações de direitos, indefinições, incompreensões, falta de acolhimento, tristeza, raiva, entre outras emoções e possibilitar espaços de expressão e não contenção. Se considerarmos a agressividade como algo superficial de questões mais profundas, talvez seja possível apoiar as crianças e adolescentes na elaboração de suas angústias. No entanto, se a equipe não consegue reconhecer essas questões e entender que a imposição de regras é a única possibilidade de relação, certamente não contribuirá para o desenvolvimento das crianças e adolescentes neste sentido.

As regras e limites são importantes para todas as crianças e adolescentes, e no contexto do acolhimento, a construção das regras e limites, assim como outras construções de acordos, devem ser realizadas de maneira coletiva, com a participação de todos.

Aquecimento para as cenas...

Raul propôs ao grupo que pensassem em algum caso desafiador para iniciar o aquecimento para o teatro do oprimido. Foram realizadas atividades de identificação e reprodução de gestos relativos às cenas de agressividade que foram vivenciadas por eles. Ao final do aquecimento, 8 grupos foram divididos para representarem uma cena. Após a representação, o grupo compartilhou o episódio e deu um nome para ela. As cenas intituladas foram: Raízes, Agressividade, Flexibilizar o regulamento, Infância frustrada, De quem é a culpa?; Sem saída; Qual é o meu lugar; Eu existo.

De um modo geral, as cenas e expressaram de maneira impactante experiências reais vividas pelas equipes. Foi um importante momento de revisão de possibilidades de percepção, compreensão e intervenção para as equipes.

Ao final das apresentações, Raul realizou uma plenária de fechamento sobre as experiências vividas e as possibilidades de novos olhares e atuações diante das expressões de agressividade das crianças e adolescentes acolhidos.

Durante todo o encontro, Mila produziu painéis gráficos com os conteúdos trazidos pelo grupo. O último painel continha uma frase que convida a todos os participantes a compreenderem a agressividade de maneira mais ampla: “ Do rio que tudo arrasta o chamam de violento...Mas ninguém chama de violentas as margens que o aprisionam”. (Bertold Brecht).

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=OD4Z5hh4yds&list=PLnXe9VZ1ye9wbBRi1_g4aJ8saB19NEA0K

 

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OFICINA: “PIA: Atendimento individualizado e articulação com a Rede”

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OFICINA: “PIA: Atendimento individualizado e articulação com a Rede”

No dia 25 de Abril de 2015 foi realizada a oficina “PIA: Atendimento individualizado e articulação com a Rede.”, com os especialistas Aline Matos e Flávio Frasseto. Aline é Educadora e Advogada, foi coordenadora de um SAICA, é atuante na área dos Direitos Humanos da Infância e Juventude, especialmente no que diz respeito às questões raciais. Flávio Frasseto é Defensor Público do Estado de São Paulo, também atuante na área dos Direitos Humanos da Infância e Juventude. Ambos trabalharam juntos em um projeto da Defensoria Pública entre 2009 e 2010, quando estiveram próximos de 18 SAICAS e 11 Varas da Infância e Juventude, auxiliando a equipe no estudo de casos considerados, pelo SAICA, como casos que poderiam ter um retorno familiar e, por algum motivo, não tinham.

Aline apresentou um vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, chamado “O perigo de uma história única” (https://www.youtube.com/watch?v=qDovHZVdyVQ), em que problematiza a estereotipização de determinados segmentos da população, reduzindo a possibilidade de reconhecer ali outros traços que não apenas o da pobreza ou da escassez de repertório simbólico, por exemplo. A partir da experiência com os serviços de acolhimento, o poder judiciário e o tema abordado no vídeo, Aline faz hipóteses diagnósticas a respeito do que observou sobre a realidade dos abrigos e os desafios na construção de um Plano Individual de Atendimento.

Aline traz exemplos concretos vivenciados pela equipe dos serviços, que demonstram o prejuízo que uma história única pode causar na construção de uma identidade. Ela relata o caso de uma adolescente acolhida que sempre escutou apenas uma versão sobre sua genitora: uma mãe que a teria abandonado por ser alcoolista e prostituta. Esta jovem, quando sai do abrigo, repete na própria experiência aquilo que ouviu sobre a mãe, passando a fazer um consumo abusivo do álcool e a se prostituir. Aline relata que essa história poderia ser contada a partir de um outro começo: a saída de sua mãe da própria casa em busca de proteção diante de uma situação de violência física que sofria por parte de seu companheiro. Ela aponta que talvez a adolescente pudesse dar outros destinos para sua vida, caso tivesse ouvido mais de uma versão a respeito de sua mãe e dos motivos de seu acolhimento.

Durante o projeto que executou, Aline observou que os serviços de acolhimento tinham pouco conhecimento a respeito do papel da Defensoria Pública e faltava integração entre a equipe do SAICA e seus superiores, o que gerava muita cobrança, mas pouco suporte do município para lidar com as questões apresentadas. Também percebeu que os SAICAS ficavam muito submissos à burocracia e à opinião do juiz, sentindo-se pouco legitimados a falar e tomar decisões a respeito das crianças que ali viviam, tornando-se incapazes de autorizar uma saída com a família, por exemplo, sem passar pelo juiz (referiu-se a casos em que não havia determinação expressa para que a criança não se aproximasse da família). Esse tipo de burocracia gerava uma falta de iniciativa para trabalhar na direção de uma reinserção familiar: muitos gestores relatavam sentir-se culpados por seus superiores por terem permitido a convivência da criança com uma família marcada pela história única de violência e negligência.

Acompanhar uma família e trabalhar no sentido de uma reinserção familiar significa também implicar o município nas ações de cuidado, conhecendo e solicitando benefícios para quem precisa. Aline aponta para a delicada condição dos programas de transferência de renda: para conquistar um benefício de reparo na habitação, por exemplo, a residência não pode estar em terreno irregular. Ou seja, o recurso pretende beneficiar um setor da população, mas pouco dialoga com ele.

A especialista reforça a necessidade de se escutar a história e a singularidade de cada criança/adolescente e de sua família, precisando para isso sair de um lugar de “poder” para estabelecer uma relação horizontal, que permita à equipe desprender-se de um padrão idealizado, para ouvir e acolher a singularidade dos casos.

O defensor público Flávio Frasseto inicia sua fala enfatizando que o modelo de elaboração do PIA não deve estar submetido a uma metodologia determinada pelo juiz: a multiplicidade de metodologias de elaboração do PIA enriquece o instrumento. Sugere também que a equipe dos serviços não aceite imposições de como ele deve ser feito, pois tem autoridade para pensar o seu próprio modelo, e isto é garantido pela legislação.

Ele diz que, ao construirmos o PIA, devemos nos pautar em uma noção básica de planejamento: Onde estamos (o sujeito, o contexto da família e o motivo do acolhimento), Onde queremos chegar e quais estratégias faremos para alcançar isso, tendo como ponto fundamental a implicação do sujeito e de sua família nesta construção. Quanto mais múltiplas forem as histórias a respeito daquela criança e sua família, bem como dos motivos de seu acolhimento, melhores chances teremos de construir um PIA mais adequado para aquele contexto singular. Quando isso não ocorre, ou seja, quando a equipe se inclina pouco na direção de ouvir a narrativa que aquele sujeito traz, costuma-se desenvolver um plano de ação também genérico. Segundo Flávio, quanto mais generalizado é o diagnóstico, mais a equipe lança mão de um “pacote de intervenções” que supostamente deve ser aplicado àquela realidade. Reforça que, ainda que existam situações semelhantes, a experiência de cada sujeito é sempre distinta, bem como devem ser as intervenções.

Para Frasseto, o PIA é um importante instrumento de diálogo entre o serviço de acolhimento, o Poder Judiciário, a Rede Socioassistencial e os demais parceiros. Ele faz uma recuperação histórica de alguns instrumentos e metodologias que foram inspiradoras para a criação do PIA, como por exemplo: O trabalho de coaching, aplicado ao desenvolvimento de carreiras; e as Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Menores Privados de Liberdade,que define um plano individual de tratamento para jovens em conflito com a lei. Além das experiências internacionais, temos no Brasil as resoluções do SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e o Projeto Terapêutico Singular, instrumento vinculado à Secretaria de Saúde. A Lei 12.010, de 2009, oficializa o PIA como instrumento para o acolhimento institucional. O objetivo central dessas metodologias é qualificar a intervenção com pessoas que vivem em contextos de vulnerabilidade.

Flávio afirma que o PIA é um documento extenso e bastante abrangente, com diferentes focos. A equipe deve considerar que o foco principal na chegada da criança ao serviço é a reintegração familiar, prioridade garantida pelo ECA. Ainda que os motivos do acolhimento e as histórias de violência possam chocar a equipe que recebe o usuário no serviço, deve-se compreender que o foco prioritário é a reintegração familiar. Em segundo lugar, portanto, a equipe pode desenvolver ações que promovam um desenvolvimento saudável daquela criança durante o seu período de acolhimento.

O Defensor Público sugere que a atuação do serviço de acolhimento deve ter a direção de recuperar a capacidade protetiva em torno da criança/adolescente, compreendendo que o acolhimento institucional configura justamente a perda dessa capacidade. Além da família nuclear, figuras importantes da comunidade, com a qual a criança possui um vínculo, também podem estar implicadas nesta construção. Deste modo, é mais do que necessário que estes vínculos comunitários e familiares sejam mantidos durante o período do acolhimento da criança. A equipe deve se esforçar em compreender e auxiliar estas pessoas em suas dificuldades nesta tarefa.

Por fim, diante de sua experiência, Frasseto afirma que a ausência da participação do acolhido e da família na elaboração do PIA gera um fracasso em relação aos casos, na medida em que esses sujeitos não se sentem parte da construção de algo que tem a ver com sua própria vida e seu futuro. As metas presentes no PIA devem ser claras, detalhando o tratamento e as responsabilidades de cada ator na execução das ações. Só assim é possível ter clareza a respeito das eventuais falhase trabalhar no sentindo de solucioná-las.

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse ao link:

https://www.youtube.com/watch?v=djPtP0DInpI&list=PLnXe9VZ1ye9x66Pm23ED6MMyRrENu-IVB

 

 

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OFICINA : “Acolhendo as famílias: um desafio para toda a equipe"IPE”

OFICINA : “Acolhendo as famílias: um desafio para toda a equipe"IPE”

No dia 21 de março de 2015, foi realizada a oficina “Acolhendo as famílias: Um desafio para toda equipe”, com a participação da especialista Valéria Brahim: psicóloga, especialista em terapia familiar e violência contra a criança e o adolescente, gerente de programas sociais na ONG Terra dos Homens (Rio de Janeiro/RJ).

Qual é o maior desafio das equipes com relação às famílias? Qual é a missão dos serviços de acolhimento?

Valéria apontou para o fato de que o “abrigo existe para não existir”, ou seja, existe para acolher e desacolher as crianças e adolescentes que nele residem, a partir da reintegração familiar. A partir desta perspectiva, Valéria convidou ao grupo a escrever individualmente uma palavra que completasse as frases: Família é... e Famílias das crianças e adolescentes que atendemos é.... Para ambos exercícios, Valéria propôs ao grupo o agrupamento das palavras. Para a primeira questão sobre o que é a família, as categorias foram: base (estrutura), afeto (amor, carinho e etc); Para a questão sobre as famílias atendidas, as categorias foram: desestrutura (desorganizada, problemática, vulnerável...), impotente, negligenciada, desafiadora.

Valéria convida o grupo a contemplar e analisar o quadro onde as palavras estavam inseridas. O grupo trouxe a percepção de que ao falar de famílias estavam em questão os conceitos de famílias reais X imaginárias. Valéria questiona: Esta percepção afeta a relação com as famílias? As famílias atendidas, não podem ter características das famílias consideradas “ideais”, como amor, afeto, proteção, base?

Foram trazidos aspectos históricos sobre a concepção de família, na qual ainda existe um ranço do modelo burguês, composto por pai, mãe, filhos, e que ainda interferem diretamente na concepção atual de família. Valéria falou sobre a importância dos profissionais que atuam com as famílias se darem conta de seus preconceitos e da interferência que eles têm na relação com as famílias. Além disso, segundo a ONU, 1994, “Família é gente com quem se conta”. Este conceito não parte do pressuposto consanguíneo e sim de afeto, no qual a família pode ser um vizinho, ou alguém que tenha uma relação próxima com as crianças e adolescentes. Reconhecer as famílias para além dos vínculos consanguíneos, favorece substancialmente a possibilidade de fortalecimento de vínculos e reintegração familiar. Cada família apresenta dificuldades e realidades distintas, que devem ser reconhecidas tanto por elas mesmas, quanto pela equipe que as acompanha, criando-se assim um plano de acompanhamento familiar.

Será que as equipes estão dispostas a reconhecer as famílias para além do assistencialismo, da incapacidade e disfuncionalidade? É fundamental que as equipes possam empoderar as famílias a partir de suas competências e estratégias de sobrevivência já existentes. À medida que as famílias possuem o apoio da equipe para o reconhecimento destas competências passam, cada vez a mais, a necessitar menos deste amparo.

Com relação às possibilidades de estratégias de trabalho com as famílias, Valéria pontua: o desenvolvimento de vínculo com a família, relação horizontal, investir no vínculo da família com as crianças (a partir de um Plano Político Pedagógico, visitas e etc), família como participante ativa no abrigo (assembléias, contribuir para a dinâmica do local), família como co-responsável pela criança (participação em reuniões escolares, consultas médicas, atividades lúdicas e etc).

As famílias devem participar da construção dos PAFs (Plano de atendimento familiar), e a equipe deve realizar entrevistas, visitas, grupos de famílias, e encaminhamentos e acompanhamentos na Rede. Além disso, devem ser realizadas discussões de caso, capacitações e reuniões de equipe com frequência, na perspectiva de “cuidar de quem cuida”. Essa metodologia contempla três fases para a reintegração familiar: pré-integração, na qual a família e a criança são ouvidas para entender que família é essa, a integração, na qual são realizadas as estratégias junto às famílias, e pós-integração, para acompanhamento da família após a reintegração familiar.

Nas discussões dos grupos, surgiram as perguntas:

- Como fazer com que nas visitas familiares sejam contempladas as expectativas das crianças e adolescentes e das famílias?

- Até que ponto a equipe deve insistir no trabalho com as famílias?

- Como lidar com as famílias que não aderem ao plano familiar de reintegração?

- Como atuar em uma Rede despreparada, ausente de alguns órgão do SGDCA?

Valéria afirma que não há uma receita para todas as famílias, e que cada família deve ser considerada a partir de sua especificidade. Trouxe uma questão importante que diz respeito aos três tempos: do judiciário, da criança e da família, e que nem sempre responderão de maneira conjunta. Por isso, é importante que a equipe técnica possa reconhecê-los e fazer os devidos encaminhamentos para cada caso. Na relação com o judiciário, é importante que a equipe possa, a partir de dados concretos, sugerir prazos que atendam a necessidade de cada família e criança.

Neste sentido, é importante considerar a idade das crianças e adolescentes e seus interesses, bem como o desejo das famílias, que muitas vezes chegam aos serviços confusas,  sem clareza de suas potências e possibilidades.

“Até que ponto a nossa prática confirma ou desconfirma padrões repetitivos no atendimento às famílias?”. É dever das equipes se avaliar e rever suas estratégias de intervenção, sobretudo em um contexto no qual a Rede apresenta fragilidades. É de responsabilidade de todos construir indicadores que fortaleçam as políticas públicas do SGDCA. Além disso, é papel dos profissionais da Rede propor reuniões e fortalecimento da Rede, inclusive com o judiciário.

Valéria fez a indicação de algumas referências bibliográficas para o trabalho com famílias:

  • “A polícia das famílias” – Jacques Danzelot – Ed. Graal

  • “Competência das famílias” – Guy Ausloos - Climepsi Editores

  • “Busca do ponto sólido” – Guy Ausloss

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=a164m4GGT0Q

 

OFICINA: “Arte e possibilidades de expressão no cotidiano"

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OFICINA: “Arte e possibilidades de expressão no cotidiano"

No dia 28 de fevereiro de 2015, foi realizada a oficina “Arte e possibilidades de expressão no cotidiano”, com a participação dos especialistas: José Bueno, Arquiteto e Urbanista de formação, criador do Instituto Harmonia, Educação e Sustentabilidade. Atua há 20 anos como educador e compõe a equipe de facilitadores do Arteria; e Cecília Zanotti, Diretora executiva da Artéria e facilitadora, é administradora de empresas formada pela EAESP – FGV.  Há 15 anos desenvolve experiências focadas em educação.

Segundo os especialistas, criatividade é a capacidade de imaginar e criar o que não existe. Todas as pessoas são criativas, no entanto, desde muito cedo vão tolhendo essa criatividade, criando camadas que as impedem de se expressar: por medo do ridículo ou por acreditar que atividades artísticas são somente para artistas.

O grupo iniciou com a produção de crachás criativos. Em seguida, foram realizadas atividades e dinâmicas de “aquecimento” e integração do grupo, tais como: roda rítmica de apresentação, estabelecimento de empatia e vínculo, entre outras. O grupo foi convidado a se expressar através de diferentes linguagem – de exercícios corporais, rítmicos, desenho e escrita.

Tudo aconteceu em um ambiente leve e divertido, sendo este um dos principais objetivos do dia: se divertir! De acordo com José Bueno, cientificamente, um clima alegre, leve e prazeroso produz endorfinas, que favorecem a aprendizagem. Ao contrário, um clima tenso e ameaçador produz adrenalina, que dificulta qualquer processo de interação e produção de conhecimento.

Reflexões e referências acerca da importância destes fenômenos no contexto do acolhimento foram trazidas ao longo do encontro, no qual ficaram evidenciados aspectos importantes como a disponibilidade física e emocional dos educadores para com as crianças e adolescentes para o desenvolvimento de vínculos e empatia. A replicação das atividades artísticas no cotidiano foi vista como essencial, para favorecer a expressão e empoderamento das crianças e adolescentes.

O grupo pôde compartilhar sensações, sentimentos, emoções oriundas de experiências individuais quanto coletivas, que pudessem descrever como cada participante percebia sua relação com a criatividade.

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=GKJipNq_t4c&list=PLnXe9VZ1ye9x3yov5FfTN3igaovkYb8ym

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OFICINA: “Acolhimento De Bebês: Práticas E Reflexões"

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OFICINA: “Acolhimento De Bebês: Práticas E Reflexões"

No dia 24 de janeiro de 2015, foi realizada a oficina “Acolhimento de bebês: Práticas e Reflexões”, com a participação das especialistas Cristina Seguim, psicanalista e membro do grupo Acesso do Instituto Sedes Sapientiae, e Beia Lunardelli, instrutora de massagem infantil. Nesta ocasião, foi realizado o lançamento da publicação “O acolhimento de bebês: práticas e reflexões compartilhadas”, organizada pelo Instituto Fazendo História.

Cristina iniciou sua fala enfatizando a importância do ambiente, nos primeiros anos de vida do bebê, para o desenvolvimento saudável dos vínculos, auto-estima e autonomia. Partindo da concepção Winnicotiana, para que haja um bom desenvolvimento dos bebês, é importante que haja uma relação de proteção e segurança exercidos por um adulto. Essa relação é nomeada função materna ou maternagem, que pode ser realizada tanto por homens quanto mulheres, e possui um papel fundamental na constituição psicoafetiva do bebê.

É muito importante haver um equilíbrio no exercício desta função, de forma que a maternagem seja suficientemente boa - não ocorrendo nem de maneira demasiada e superprotetora, e nem ausente na relação com o bebê - possibilitando assim o desenvolvimento da autonomia e crescimento saudáveis.

Como desenvolver uma maternagem suficientemente boa no contexto do acolhimento?

O abrigo pode ser um lugar de ressignificação de experiências traumáticas. Na rotina das instituições, sobretudo no contexto do acolhimento, é importante que haja uma identidade com relação aos cuidados dos bebês, para que estes não fiquem a mercê da rotatividade dos educadores. Além disso, a rotina é importante para a estabilidade dos bebês, que tendem a não lidar bem com mudanças. Eleger alguns educadores que possam estar mais presentes no desenvolvimento de vínculos diminui a ansiedade dos bebês frente a constantes mudanças.

Além da constância, é importante que os cuidadores tenham identificação com estes cuidados, e que tenham disponibilidade afetiva para vincular-se. Estar atento à subjetividade dos bebês, gostos, comportamentos e choro, é importante para identificar possíveis sinais de sofrimento, que podem apresentar-se a partir da dificuldade de ingerir alimentos, de ter um bom sono, retraimento nos contatos, agitação motora, atrasos no desenvolvimento, adoecimentos constantes, alergias, entre outros.

Nos cuidados com os bebês, é importante considerar a subjetividade de cada um, e quebrar regras quando se percebe que eles ainda não estão preparados para lidar com elas. É importante considerar que regras são diferente da rotina, e os bebês precisam de rotina para se sentirem estáveis.

No contexto em as rupturas são frequentes e muitas vezes inevitáveis, é importante conversar com os bebês sobre elas, e possibilitar a realização de rituais de despedida, seja para os bebês, para as crianças e para os educadores que deixam e ficam na casa.

Como reflexões sobre o trabalho de educadores e técnicos do serviço de acolhimento com os bebês, Cristina ressaltou a importância de evitar julgamentos com relação às famílias, bem como o cuidado com os “não ditos”, e alinhamento entre a equipe.

Beia relatou que a massagem contribui para o vínculo entre pais e/ou cuidadores com o bebê, que se dá através do olhar, do toque, do cheiro, do som e etc. Relatou ainda que é importante estar atento aos sinais de engajamento que o bebê apresenta, que são positivos para a interação através da massagem, e as consequências negativas decorrentes da não percepção destes sinais para a interação.

 Beia também enfatizou a importância da continuidade dos cuidadores nos cuidados dos bebês para a organização e estabilidade emocional, além da importância de se conversar com os bebês e poder ajudá-los a nomear sentimentos.

 Após as apresentações das especialistas, os participantes reuniram-se em grupos para discutir sobre os desafios e boas práticas relacionadas aos cuidados com os bebês. As boas práticas emergidas dos grupos foram:

- Atuação multidisciplinar nos serviços (diferentes olhares)

- Criar oportunidades de brincar com as crianças na rotina

- Conversas com as crianças e famílias durante a aproximação para adoção

Para acessar o vídeo com os melhores momentos da Oficina, clique em:

https://www.youtube.com/watch?v=fa5qjVi5nck

 

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