No dia 27 de março de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a oitava oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "ADOLESCÊNCIAS E HISTÓRIAS DE VIDA: QUANDO A HISTÓRIA COMEÇA A SER CONTADA? ". O encontro foi direcionado aos profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

Para esse encontro, convidamos Anita Machado: Psicanalista em formação com graduação em Psicologia pela PUC- PR (2002) e formação em terapia familiar e de casal pelo Intercef - PR (2004). A convidada decide iniciar a oficina aquecendo os convidados com uma dinâmica na qual, a partir do simples ato de olhar, poderíamos nos comunicar e nos colocar no lugar do outro. Essa atividade faz uma associação com uma experiência humana fundamental: a capacidade de imaginar como seria estar na pele do outro, levando em consideração todas as suas experiências, características sociais, biológicas e culturais. Essa reflexão nos ajuda a compreender melhor as histórias de vida de cada indivíduo

Anita pediu aos profissionais convidados que trouxessem um objeto considerado importante para eles, a fim de compartilhar suas histórias pessoais e explicar o significado que esse objeto possui para cada um. A partir da dinâmica, os participantes da oficina puderam compartilhar com o público um pouco de suas memórias. Durante esse momento, foi feita uma exposição sobre o trabalho da psicóloga Ecléa Bosi, que se dedica ao estudo da memória. Ecléa Bosi destaca a importância das narrativas pessoais e das histórias de vida na preservação e transmissão da memória, enfatizando como essas histórias são fundamentais para a reconstrução e interpretação das experiências vividas.

Dando continuidade à oficina, Anita propôs um espaço para os trabalhadores da rede socioassistencial refletirem. Nesse sentido, ela apresentou quatro perguntas importantes para o trabalho com histórias de vida. Anita dividiu os profissionais em quatro grupos, sendo cada grupo responsável por refletir sobre uma dessas questões.

1. O trabalho com adolescentes é difícil? Por que?

2.No trabalho com adolescentes há uma história que se repete? Qual?

3.No trabalho com adolescentes qual é a experiência mais marcante?

4.Quem são os adolescentes que vocês trabalham?


Após a reflexão em grupo, Anita sugere que cada grupo eleja uma palavra forte que representa o cerne das discussões realizadas. Essa prática permite compartilhar com o grupo maior um resumo significativo do processo de reflexão e das conclusões alcançadas por cada equipe.

Ao final do encontro, Anita conduz um momento mais expositivo sobre a adolescência. Ela aborda alguns marcadores importantes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destacando o início e o fim desse período segundo critérios cronológicos. No entanto, ela também relaciona esses marcos com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que introduz a noção de pré-adolescência, evidenciando que, embora existam definições baseadas em idade, as experiências sociais podem variar consideravelmente. Isso significa que certos eventos podem ocorrer em momentos considerados precoces de acordo com os marcadores cronológicos, mas que refletem as complexidades das experiências individuais e sociais durante essa fase.

Anita destaca que as histórias de vida dos adolescentes ganham vida quando são narradas, mas também enfatiza a importância de os profissionais as acolherem. Ela ressalta que o objetivo não é simplesmente descobrir as pessoas, mas sim criar oportunidades narrativas para que elas se reinventem, "caminhando para si" através das longas estradas dos relatos de vida. No estudo "Oficinas de história de vida: uma construção metodológica no enlace entre psicanálise e saúde coletiva" — apontado por Anita durante a oficina — as narrativas das histórias de vida compartilhadas pelas adolescentes foram destacadas. O estudo sublinhou os deslocamentos na leitura que essas jovens faziam do processo em que estavam inseridas. O objetivo era colaborar com a produção de rupturas da posição de vítima, desconstruindo certezas e verdades cristalizadas e admitindo a dispersão onde se supunha unidade e identidade.

“lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho” (BOSI, 1994)

Autoria: Vinícius Mas - Técnico do programa Formação no Instituto Fazendo História, psicólogo e especialista em Saúde Mental pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Dedica grande parte dos seus esforços atuando com pessoas em situação de risco.

Anita Machado é Psicanalista em formação com graduação em Psicologia pela PUC- PR (2002) e formação em terapia familiar e de casal pelo Intercef - PR (2004). Mestre em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela IP-USP (2012). Supervisora clínico institucional de equipes da Assistência Social e da Saúde. Atende em consultório particular crianças, adolescentes, adultos e casal, para conduzir esta oficina.

 1. (Conte, M., Silveira, M., Torossian, S. D., & Minayo, M. C. S., 2014).

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui