No mês de dezembro, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA), realizou a oficina "Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do Serviço de Acolhimento" nas cidades de Guarulhos e Campinas. Participaram as profissionais Ana Carolina Barros Silva, psicóloga e psicanalista, com doutorado em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes (França); e Luciana Braga, psicóloga, psicanalista e mestre em educação.
A oficina teve início com a introdução das profissionais. Ana apresentou a proposta de trabalho que realiza na "Casa de Marias" e a centralidade no atendimento a mulheres negras e periféricas, que, frequentemente, não recebem cuidados na mesma medida em que cuidam. Em seguida, foram apresentados dados estatísticos sobre causas de adoecimento no contexto de trabalho.
Os dados mostraram que o recorte de gênero e raça são fatores importantes a serem considerados. De acordo com a prática clínica, as mulheres adoecem mais que os homens (principalmente em relação à depressão), o que não exclui a possibilidade dos homens também serem afetados por tais questões, embora muitas vezes não consigam sinalizar ou verbalizar isso devido ao sistema patriarcal em que estamos inseridos.
No momento de interação, foram distribuídas folhas, lápis e canetas aos participantes, propondo que refletissem se já haviam adoecido alguma vez por conta do trabalho, e que eles escrevessem sobre suas experiências. Após a atividade, foram apresentados os impactos da Necropolítica nas Políticas de Assistência Social e de Saúde Pública no contexto brasileiro, incluindo desvalorização salarial e formas de acesso e cuidado que contribuem para o adoecimento dos trabalhadores.
Para encerrar o primeiro bloco da oficina, Ana e Luciana dividiram os participantes em grupos por sorteio, com o objetivo de realizar um Diagnóstico Institucional - identificando problemas estruturais que os grupos avaliam como geradores de impacto negativo no bem-estar físico e mental da equipe de colaboradores das instituições onde atuam.
O segundo bloco da oficina foi conduzido pela profissional Luciana, que baseou sua apresentação em saberes decoloniais, incluindo a Filosofia Ubuntu, conhecimento de nossa história como um movimento de ancestralização das relações, utilizado há séculos, e hoje considerado inovador.
Com base nas propostas de bem viver e no conceito de Ubuntu apresentados, os grupos reuniram-se novamente para pensar e planejar coletivamente ações que poderiam ser implementadas nas instituições onde atuam, com o intuito de iniciar ou ampliar políticas de bem-estar para as equipes de colaboradores.
A oficina foi finalizada com uma grande roda de conversa entre todos os participantes, onde os grupos puderam compartilhar as discussões realizadas.
Ana Carolina Barros Silva, psicóloga, psicanalista com doutoramento em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes(França), pesquisadora e consultora em saúde mental da população negra, coordenadora- geral da Casa de Marias.
Luciana Braga, psicóloga,psicanalista,e mestre em educação, atua há cerca de 20 anos na clínica com crianças e adolescentes e na formação de profissionais da educação e do acolhimento psicossocial, com foco em uma perspectiva feminista e decolonial.
Assista à oficina na íntegra: clique aqui.