No dia 21 de junho de 2021 foi realizada a oficina “O trabalho com histórias de vida”, que contou com a participação das profissionais Tatiana Barile, coordenadora do Programa de Formação do Instituto Fazendo História, e Daniela Martins, psicóloga e técnica no Programa de Formação do Instituto Fazendo História.
Na abertura da oficina foi realizada uma atividade com o objetivo de fazer uma viagem no tempo na qual os participantes puderam entrar em contato com suas próprias histórias de vida. Depois disso, os participantes foram divididos em grupos para compartilhá-las e de volta ao grande grupo algumas pessoas puderam compartilhar sobre essa experiência de escutar e de falar sobre suas histórias. Algumas impressões importantes foram trazidas, tais como que rever a história nos torna mais sensíveis ao escutar e lidar com as histórias das crianças e dos adolescentes. Também houve outras reflexões no sentido de compreender que cada um tem uma história e existem várias versões para a mesma história, e que há que se respeitar cada uma delas e ter uma escuta atenta e cuidadosa dos profissionais que atuam em serviços de acolhimento.
Em seguida, Tatiana reforçou que o acolhimento é um lugar de histórias. Nem todas as crianças e adolescentes sabem contar suas histórias, mas muitas as trazem em seus comportamentos, no jeito que se alimentam, como dormem e na forma como se relacionam. Se o adulto possui uma escuta atenta, é possível compreender o que a criança ou adolescente está tentando nos dizer e assim, através de recursos, trabalhar com elas. Quando não há um histórico, trabalha-se apenas com o que aparece, sem o respaldo/amparo necessário. Tatiana complementou ainda que o ser humano é construído por histórias que os marcam e determinam, uma vez que o motivo do acolhimento e sua família são aspectos centrais e delicados na vida das meninas e meninos acolhidos.
Portanto, trabalhar com histórias de vida deve fazer parte de todo o trabalho em serviços de acolhimento, seja institucional ou familiar, e todos os profissionais devem estar prontos para esse trabalho com histórias de vida. É importante pensar em metodologias e estratégias que contribuam para que as crianças possam lidar com suas histórias, pois elas não marcam uma hora para falar sua história, mas sim contam e podem querem falar sobre ela na hora do almoço, do banho ou em uma saída com um educador. Para que seja possível falar sobre suas histórias, os vínculos são fundamentais nesse processo, pois possibilitam à criança e ao adolescente entender e elaborar o que se passou e o que se passa com sua família. Uma metodologia também importante é o estudo de caso entre os profissionais para melhor compreensão de como lidar com as histórias de vida.
Após esse momento, foi exibido um vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie - “o perigo de uma história única” - e então refletiu-se sobre as histórias únicas que os profissionais e a comunidade possuem sobre as crianças e os adolescentes em acolhimento, e sobre o perigo de estigmatizarmos através dessa única versão. Sempre existirá várias versões da mesma história: a da criança, a da família, a dos profissionais do serviço de acolhimento, dos profissionais da Vara da Infância e Juventude e da rede, e todas devem ser cuidadas para que não haja nenhum julgamento e preconceito ao discuti-la.
A oficina teve seu encerramento abordando uma estratégia chamada “histórias que curam”, que é uma metodologia baseada na teoria de alguns psicanalistas, como: D.W. Winnicott, Gilberto Safra e Renate Meyer Sanchez, onde as narrativas literárias são uma poderosa ferramenta para as crianças e adolescentes compreenderem sua história de vida e a complexidade dos sentimentos que a acompanham! A história que cura fala de maneira indireta sobre aquilo que a criança vive. O encontro foi muito bem avaliado por todos os participantes.