Falar de histórias de vida é dizer que essas crianças e adolescentes são únicos e que, embora algum direito tenha sido violado e tenha havido uma separação, cada um tem uma história, a sua, que é diferente da de todos os outros. No processo de construção da identidade, na busca de uma compreensão de nós mesmos, necessariamente nos fazemos perguntas como: “De onde eu vim?” e “Qual a minha história?”.

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Mas para que insistir em falar e ouvir a respeito de momentos tristes e dolorosos? Não seria melhor esquecer? A verdade é que uma história vivida não se esquece. Querendo ou não, essas experiências nos marcam, nos constituem e nos determinam. Por mais difíceis que sejam o passado e o presente de uma criança ou adolescente, aquela é sua história. Não conversar sobre ela, preferir que esqueça ou faça de conta que esqueceu tem consequências para seu desenvolvimento. Quando não falamos com a criança e o adolescente sobre o que viveu, eles continuam expressando suas angústias e sofrimentos, não por meio de palavras, mas por meio de comportamentos agressivos, da dificuldade em se vincular, do choro, da enurese noturna, dos mais diversos sintomas. Sabemos que, quanto mais houver espaços para expressão e elaboração dessas histórias, menos reações descontroladas surgirão e mais ferramentas os adultos terão para ajudá-los a se fortalecer.

O respeito à história e o direito à verdade são a base para o trabalho com as crianças e adolescentes que estão nos serviços de acolhimento. Tão ou mais importante do que matriculá-los na escola, no futebol, levá-los ao médico ou para passear, é poder lhes dizer por que estão acolhidos e qual a relação que poderão ter com sua família a partir daquele momento. É se interessar e valorizar suas recordações, saudades e hábitos, propiciando um espaço de acolhimento verdadeiro.

A criança e o adolescente acolhidos encontram-se em um período delicado e dolorido. Necessitam dos adultos para entender as condições que levaram ao acolhimento e para ter suas angústias, sofrimentos e dúvidas reconhecidos e compreendidos. Esse processo de reparação exige a presença de pessoas preparadas para olhá-los de forma singular, levando em conta suas histórias de vida, seu contexto sociocultural e sua potência. O serviço de acolhimento deve ser um espaço no qual as crianças e os adolescentes se sintam protegidos e criem vínculos de confiança que favoreçam o desenvolvimento da autonomia, criatividade, capacidade de persistir, desejar e projetar o futuro.

Registrar a vivência durante o período de acolhimento ajuda a evitar que esse tempo se torne um período silenciado e nebuloso. Quanto mais a criança e o adolescente puderem entender a experiência pela qual passaram, melhor conseguirão senti-la como uma fase integrada à sua vida, que representou um momento de proteção e cuidado. Oferecer ferramentas para que possam se conhecer, se descobrir, se apropriar de suas histórias, gostos, desejos e, assim, construir seus projetos de vida permite realizar encaminhamentos que estejam verdadeiramente pautados na identidade familiar e pessoal de cada criança e adolescente.

O Trabalho com história de vida está previsto no ECA e nas Orientações Técnicas, tornando-o parte fundamental do Projeto Político Pedagógico de cada serviço de acolhimento.

O que dizem as leis e orientações sobre direito às histórias de vida:

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Do que precisam meninos e meninas em situação de acolhimento e como o Fazendo Minha História pretende contribuir?

•       Conversas respeitosas que os ajudem a compreender o contexto do acolhimento

•       Escuta atenta e afetiva das angústias e dúvidas

•       Interesse genuíno e valorização de suas recordações, saudades e hábitos

•       Acolher, ouvir, respeitar, ensinar, dar limites e, principalmente, se vincular às crianças e adolescentes.

•       Possibilitar à criança e ao adolescente entender e elaborar o que se passou e o que se passa com a sua família, através de vínculos seguros e afetivos

•       Levantar hipóteses e ajudar as crianças e adolescentes a compreender o que comunicam através de comportamentos (ex: choro excessivo, o xixi e coco fora de hora, o isolamento, a dificuldade de aprendizagem, o desrespeito às regras, a agressividade, a saída sem permissão)

•       Trabalho com história de vida está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e nas Orientações Técnicas, tornando-o parte fundamental do Projeto Político Pedagógico de cada serviço de acolhimento.

Benefícios do acesso às histórias de vida:

•       Compreensão e elaboração da própria história

•        Preservação e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários

•        Atendimento mais personalizado, individualizado, afetivo e acolhedor

•        Apoio para que criança ou adolescente construa uma opinião consciente sobre sua situação

•        Construção de um PIA mais alinhado à opinião da criança ou adolescente

•        Organização de registros sobre a história de vida e desenvolvimento de cada criança e adolescente