O respeito à história e o direito à verdade são a base para o trabalho com as crianças e adolescentes que estão nos serviços de acolhimento. Tão ou mais importante do que matriculá-los na escola, na capoeira, levá-los ao médico ou para passear, é poder proporcionar conversas sobre por que estão acolhidos e qual a relação que poderão ter com sua família (ou substitutos) a partir do momento do acolhimento.
Pesquisas e estudos no campo da psicanálise mostram que mais do que os fatos reais vividos, são as palavras utilizadas pelos adultos e, principalmente a forma como eles significam os fatos reais que determinam as marcas psíquicas que a criança terá sobre determinado evento. A medida de acolhimento, portanto, será reparadora para a criança ou adolescente à medida que puder ajudá-lo a encontrar palavras que deem sentido ao que viveu, sem desqualificar suas raízes familiares, ajudando a reconhecer as experiências positivas que tiveram - mesmo que alternadas a momentos de negligência ou violência.
O impacto do afastamento do convívio familiar e de maus tratos no desenvolvimento psíquico das crianças acolhidas pode ser minimizado e até superado durante o acolhimento através das relações com adultos que exercem as funções de cuidado, proteção e estabelecimento de limites. Além disso, os profissionais dos serviços de acolhimento exercem um importante papel junto às famílias, devendo estar preparados para receber de forma acolhedora não apenas o bebê, criança ou adolescente acolhido, mas também seus pais, tios, avós, primos.
Nesse contexto de distância, rupturas, histórias doloridas e complexas, bem como de desafios práticos (dia e hora da visita, distância entre o serviço de acolhimento e a casa da família), as relações e vínculos familiares podem se enfraquecer. Por isso, os profissionais do serviço de acolhimento devem estar preparados para, nos momentos de visitas da família ao serviço e contato com a criança e o adolescente, atuarem como mediadores e facilitadores dessa relação. Todos aqueles que frequentam ou trabalham no serviço de acolhimento podem contribuir com pequenas ações, como fazer com que os familiares da criança se sintam à vontade, valorizar as pequenas conquistas que fizeram, facilitar a participação no cotidiano de seus filhos, demonstrar a eles que são peças importantes na vida e na identidade da criança ou adolescente. Devem buscar olhar para a potência da família e oferecer toda a ajuda necessária para a superação de suas faltas e dificuldades.
Para trabalhar esse contexto, o Instituto Fazendo História desenvolveu o programa Fazendo Minha História (FMH), que possui uma metodologia sistematizada para que crianças e adolescentes em acolhimento entrem em contato e se apropriem de suas histórias, registrando-as através de fotos, relatos e depoimentos. Propõe, ainda, espaços de expressão que permitam à criança ou ao adolescente elaborar passagens delicadas de sua vida e a valorizar sua experiências pessoais e familiares.
O registro construído em conjunto é um material que, quando acessado e valorizado pela família, garante a continuidade entre o passado e o presente do bebê, criança ou adolescente, facilitando a construção de sua identidade.
Para ter acesso aos livros que compõem o programa Fazendo Minha História, você pode fazer download deles ou então adquirir o kit completo de replicação do programa (contém livros, fichas de situações a serem discutidas e um pen drive com materiais diversos sobre o acolhimento em geral, além de vídeos de apoio).
Para comprar o kit, mande um e-mail para contato@fazendohistoria.org.br.